quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fundações Diretas por Sapatas, Blocos e Radiers

Nos casos dc fundações diretas, nas suas várias formas, a execução da fundação envolve duas etapas principais: a escavação e preparação das bases c a execução do elemento (formas, armação e concretagem).

Desde que o projeto tenha sido bem elaborado e apresentad o com o desejad o níve ! d c detalhamento, a execução deste tipo de fundação é bastante simples, sendo que a 2a etapa s c assemelha à execução dos demais elementos dc concreto armado da estrutura, com simplificações (facilidade de acess o — inexistem andaimes , cimbramentos, elementos elevados; facilidade de concretagem —, elementos largos e pouco profundos, baixa densidade de armaduras em geral etc.).

Assim, a qualidade do processo está associada essencialmente à fiel obediência ao projeto e à qualidade dos materiais empregados no que se refere às cotas dc assentamento, às dimensões das peças, à quantidade e posicionamento das armaduras. Todos estes quesitos são de controle bastante simples, os primeiros por inspeções visuais e medições comuns c o controle do concreto e da concretagem pelos procedimentos específicos já citados.

Alguns cuidados específicos são importantes para evitar danos durante a execução, como por exemplo evitar afofar ou encharcar o terreno de apoi o das sapatas , garanti r o adequad o apiloamento e/ou agulhamento com brita do solo na base de apoio sempre que se tratar dc solos arenosos fofos ou argilosos porosos , evitar desbarrancamentos laterais e contaminação do concreto com solo e garantir boas condições de cura do concreto.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Qualidade da Execução das Fundações

a. Qualidade dos Materiais Empregados Como em outros campos da construção civil,  também na execução das fundações, dentre os  materiais aplicados, predomina o concreto de cimento Portland, utilizado com armaduras de aço (concreto armado) nas sapatas, em muitos tipos  de estacas e freqüentemente nos tubulões, ou utilizado sem armação (concreto simples) em algumas estacas e nos tubulões.

Outros materiais também são utilizados, porém cm muito menor escala: perfis dc aço em estacas metálicas, troncos de árvore aparados em estacas de madeira e alvenarias e cantarias em blocos e alicerces de pequenas edificações. Ocasionalmente  utilizam-se ainda materiais alternativos cm fundações para casos pouco rotineiros: estacas de brita ou de solo-cimento, solos reforçados para apoio
de sapatas etc.

Nào se pode jamais esquecer que, na verdade, o principal material "utilizado" nas fundações é  o próprio solo (ou rocha) constituinte do maciço, o qual deve, evidentemente, ser adequadamente investigado, conforme já citado no item  b) precedente. A qualidade dos materiais empregados na confecção dos elementos de fundação é, evidentemente, muito importante para a qualidade c o próprio desempenho da fundação e de toda a obra. Desta forma, deve-se, sempre que possível, dar preferencia a materiais produzidos com rigoroso controle de qualidade e fornecidos por fornecedore pré-qualificados. Isto passa a ser uma exigência básica em obras de grande porte, obras-de-arte viárias etc.), porém é quase inviável nas milhares de obras  de pequeno ou médio porte executadas individualmente e espalhadas pelas cidades.

Assim, é necessário fazer uma distinção clara entre as diversas categorias de empreendimentos, de empresas envolvidas c dc tipos dc obras consideradas.

Resumidamente pode-se considerar três categorias básicas, para as quais o enfoque da qualidade dos materiais fornecidos deve sei difciciiciado:

1º categoria: grandes empreendimentos ou obras com continuidade ou seqüência sistemática.
Nesta categoria deve-se procurar organizar o forneciment o dc materiai s atravé s da pré-qualificação dc fornecedores, conforme descrito nos itens 19.1.3 e 19.2.2, dando preferência a produtos certificados ou homologados.

categoria: empreendimentos de médio porte e obras de responsabilidade, executadas iso-
ladamente.

Nesta categoria a pré-qualificação geralmente não sc aplica em função da puntualidade dos fornecimentos, porém o controle precisa ser muito rigoroso devido à elevada responsabilidade das obras. Pode-se utilizar produtos certificados ou realizar contratos dc fornecimento, estabelecendo as especificações exigidas dos materiais (por exemplo, fck e slump do concreto), as condições de amostragem, aceitação e rejeição do controle de rcccbimcnto, bem como as responsabilidades técnicas e financeiras das partes nc caso de eventuais não conformidades.

3º categoria: empreendimentos dc pequeno porte e obras simples, dc menor responsabilidade.
Nesta categoria a prática corrente é a utilização dos fornecedores comuns ("depósitos" de materiais de construção, por cx. ) c o custo de um controle de qualidade especialmente contratado é incompatível com a obra. Nestes casos devese procurar dar preferência a produtos certificados e, na inexistência destes, a marcas consagradas, recorrendo à supervisão da obra por pessoal ex-periente e competente, no sentido de evitar a utilização de materiais de qualidade duvidosa ou até inconvenientes.

Quanto aos controles dc qualidade a serem utilizados para qualificar os materiais recebidos numa obra e que serão utilizados na execução de fundações, nào existem especificidades tais que diferenciem estes controles daqueles utilizados para os mesmos materiais, quando utilizados cm outras partes da obra, como por exemplo na estrutura.

Assim, para o controle de qualidade do concreto utilizado nas fundações prevalecem os mesmos padrões e a mesma metodologia utilizada para o concreto da superestrutura, e assim também para os demais insumos.

Neste contexto, recomenda-se portanto, para o leitor interessado cm se aprofundar no controle do concreto utilizado em fundações, que recorra às bibliografias específicas que existem tratando deste assunto, das quais sào citadas apenas a título dc exemplo: Petrucci (1970) , Hclene (1981) , Neville (1982) , Andriolo c Sgarbosa (1993) etc. Cabe, ainda, estabelecer algumas separações essenciais, no caso dos elementos dc fundações em concreto. Assim, os controles serão totalmente diferentes para o caso de fornecimento dc materiais (cimento, areia, pedia) paia piodução de pequenas obras com fundações em sapatas ou estacas moldadas "in-loco", ou no caso do fornecimento de concreto dc usina para aplicação na obra — caso corrente nas obras dc maior e até dc médio porte. Da mesma forma diferenciam-se de todas estas(moklagcm dos elementos no local) as obras em que sào utilizados elementos pré-moldados (estacas ou segmentos de estacas) a serem cravados. Para estas últimas aplicamse os controles típicos relativos ao fornecimento de peças pré-moldadas que, no caso das estacas, permitem ainda o controle de cravaçào.

No caso dos elementos dc aço utilizados nas obras, para os vcrgalhòcs c fios utilizados nas ar- maduras, cabem os controles usuais aplicados para  este tipo de material cm estruturas de concrcto armado e descritos nas bibliografias já referidas. Para estacas metálicas, utilizando perfis laminados ou soldados, os controles na obra geralmente se restringem aos aspectos dimensionais das peças, à qualidade das soldas c à corrosão dos perfis, não se atendo às propriedades fisico-químicas e mecânicas do aço, uma vez que estas sào admitidas como devidamente controladas nas siderúrgicas.

Para estacas de madeira não existem controles padronizados estabelecidos, inclusive pelo fato de se tratar atualmente quase que exclusivamente de estacas para obras provisórias. Cabe ressaltar que, na regiào amazônica, devido à ainda abundante presença de madeira de boa qualidade, o uso dc estacas dc madeira para obras definitivas é até recomendado, especialmente dc espécies que apresentam elevada resistência ao apodrecimento (como a massaranduba, com densidade específica maior do que 1,0). Os controles usuais no recebimento de estacas dc madeira s c restringem à confirmação da espécie de madeira contratada
(condição essencial , devido especialmente à questão da durabilidade), exigência de uso exclusivo do cerne e rejeição do alburno c às verificações dimensionais, inclusive quanto à rctilincidade.

Os demais materiais utilizados cm fundações têm caráter específico, voltado a tipos bem característicos, como por exemplo a bentonita, para produzir as lamas bentoníticas utilizadas na escavação de cstacasescavadas e "barretes". Neste caso a bentonita é elemento essencial ao processo, nào sendo, na verdade, incorporada ao produto, razão pela qual o seu controle é de interesse direto  do executor das fundações, muito mais do que  dos demais envolvidos com a obra.

Outros materiais utilizados, como cimento para a produção dc solo-cimcnto, ou pedra britada para a confecção dc estacas dc brita, apesar dc, nestes casos, se destinarem a fins específicos, sào materi-ais dc uso corrente cm concrcto e os controles de qualidade para o seu recebimento são essencialmente os mesmos num e noutro caso.

b. Qualidad e do s Processos de Produção Os processos dc produção de fundações sào bastante variados, cm funçào dos diferentes tipos de fundações utilizados. Evidentemente, os controles destes processos também variam, adequando-se a cada tipo c às condições de produção muito diversas quando s c compara desde a execução de "brocas" por operários praticamente sem qualificação até a produção dc certos tipos de estacas com equipamentos dc grande porte por empresas ultra-espccializadas.

No mesmo contexto, pode-se tratar, por exemplo, da questão da certificação da qualidade em fundações — algo plenamente viável de ser atingido por algumas empresas especializadas que exe- cutam fundações cm estacas pré-moldadas ou de aço cravadas e cm alguns casos, fundações em certos tipos de estacas moldadas ' in loco", porém totalmente inatingível para um grande número dc pequenos executores de fundações por tubulòes, estacas "Strauss", cstacas "apiloadas" c mesmo para muitas empresas que trabalham com estacas pré-moldadas, tipo "Franki", tipo "raiz" e outras.

Assim, a questão da qualidade dos processos será tratada por categorias dc tipos dc fundações em que se possa estabelecer semelhanças entre os seus processos dc produção.

• Fundações Diretas por Sapatas, Blocos e Radiers
• Fundações Profundas por Tubulões
• Fundações Profundas por Estacas Moldadas "In Loco"
• Fundações Profundas por Estacas Cravadas

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A Qualidade do Projeto de Fundaçõe

a. Seqüência do Projeto

A qualidade de um projeto de fundações depende,  antes de mais nada, de uma boa investigação do  terreno em que a obra deverá ser construída, e de  uma correta interpretação dos resultados dc tal investigação. 

De posse de tais informações cabe ao especialista analisar as alternativas dc soluções possíveis  de serem adotadas e, com base nesta análise que  considerará tanto os aspectos técnicos quanto os  econômicos , assim como prazos de obra e  condicionantes operacionais, proceder à escolha da solução mais apropriada.

Entra-se então na fase de elaboração do projeto propriamente dita, na qual serão feitos os cálculos para dimensionamento dos elementos e as verificações de comportamentos: essencialmente envolvendo a segurança contra ruptura e a expectativa dc recalques c sua compatibilidade com deslocamentos c deformações admissíveis na interação  entre superestrutura e fundações. Esta lase é concluída com a apresentação do projeto, envolvendo  desenhos, memorial, especificações e quantitativos,  de modo que possa então ser iniciada a etapa se- guinte, dc execução das fundações.

Na Fig. 19.1, a seguir, apresentase de forma resumida o fluxograma das atividades que envolvem a elaboração do projeto e as que o antece- dem e sucedem na seqüência de produção da obra.


Projeto e execução dc fundações: fluxograma de atividades
Figura 19.1- Projeto e execução dc fundações:
fluxograma de atividades

b. Investigações Geotécnicas

No item 19-2.1 b, discutiu-se a importância das investigações geotécnicas para a qualidade de um projeto de fundações e as especifícidades que  existem na relação entre estas duas etapas, dificilmente encontradas em outro campo da construção civil — razão para que fosse feito um paralelo com o camp o da medicina, em que tais especifícidades também sào fortes — e mais conhecidas do grande público!


Nào se trata aqui de repetir esta discussão, mas apenas de ressaltar sua importância para a qualidade do projeto de fundações e de indicar condiçõe s mínimas a serem supridas para tornar  exeqüível esta etapa.

As investigações geotécnicas para o projeto de  fundações cumprem dois papéis principais: um 1", referente à caracterização dos terrenos, com a tipificação dc solos c rochas aí ©correntes c definição precisa dc camadas, horizontes c do nível d'água; e um 2- relativo à determinação dos parâmetros geotécnicos de interesse para a elaboração do projeto ou para os cálculos dc verificação das fundações.

Na primeira das categorias citadas, ou seja, no tocante â caracterização do terreno com o objeti-vo de subsidiar a escolha da fundação e a elaboração do seu projeto, pode-se considerar obriga-tórios e insubstituíveis, no mínimo, os seguintes trabalhos dc investigação:

• visita ao local para conhecimento "in loco" do terreno, da vizinhança e de condicior.antes geológicas e geográficas (topográficas inclusive) do local;
• execução de sondagens de simples reconhecimento (sondagens à percussão ou sondagens tipo "SPT"), segundo a programação preconizada na norma NBR 8036 e executadas dc acordo com a norma NBR 6484, da ABNT.
• na impossibilidade da execução das sondagens de simples reconhecimento acima citadas (pela presença de matacòes, entulhos ou rocha) , execução de sondagens rotativas ou sondagens mistas rotativas/percussão, com orientação dc profissional da área de Geologia de Engenharia nos casos de presença dc rocha ou obstruções pétreas naturais.

Evidentemente a execução dos trabalhos acima, especialmente das sondagens, deve seguir com rigor as normas estabelecidas, utilizando-se equipamentos padronizados e aferidos, equipes trei-nadas c empresas capacitadas c idôneas. Isto precisa ser ressaltado pela significativa importância que têm estes trabalhos para a qualidade do projeto dc fundações e pelo fato dc que ainda se registram, no nosso meio, casos dc investigações geotécnicas malconduzidas, uso de equipamentos cm desacordo com os padrões cstabclcc dos e aplicações de procedimentos incorretos nu execução de tais trabalhos. Os prejuízos decorrentes de tais não-conformidades podem ser inestimáveis, muitas e muitas vezes maiores do que todo o custo da campanha dc investigações!

Na segunda categoria citada, que envolve os trabalhos laboratoriais ou de campo que objetivam a obtenção dc parâmetros para a elaboração do projeto das fundações, as alternativas dc tipos dc ensaios disponíveis são muitas. No entanto, apesar desta multiplicidade de alternativas disponíveis, a prática corrente é bastante restrita, pois na grande maioria dos casos os projetos são elaljorados dispondo-se, além dos dados já citados (pertencentes â categoria anterior), apenas do índice NSPT, ou seja, cio número de golpes do ensaio Standard Penetration Test, execu-tado "in situ", dc metro em metro, nas sondagens de simples reconhecimento.

Podese considerar que a disponibilizaçâo desta informação seja o mínimo aceitável, cm casos correntes deobras usuais que nào envolvam nenhuma complexidade especial seja do ponto de vista das exigências da estrutura, seja no tocante às características do solo ou dos outros materiais pre-sentes no terreno.

Mesmo para o ensaio SPT todo o rigor deve ser observado na sua execução e, quando assim indicado, na fiscalização desta. Neste campo, vêse como extremamente promissora a melhoria da qualidade dos serviços através da introdução de sistemas da qualidade pelas empresas executoras c, quando devidamente qualificadas, com a concessão de "Aprovações Técnicas" por entidades independentes, conforme apresentado no item 19.1.3.

Para obras de maior responsabilidade, assim como naquelas cm que a estrutura ou o tipo dc terreno ensejam dúvidas maiores quanto ao com-portamento das fundações é de todo recomendável que também no Brasil, assim como já é feito em muitos países europeus, asiáticos e na América do Norte, se lance mão do uso de outras técnicas de investigação, seja "in situ" como os ensaios pressiométricos, o CPT, CPTU, DMT. A ainda reduzida aplicação de todas essas técnicas na En-genharia de Fundações é um freio ao seu maior desenvolvimento no país, situação esta que de-verá sc alterar significativamente nos próximos anos, permitindo ao projetista de fundações atuar com uma gama muito mais ampla e confiável de dados e informações, o que certamente representará um salto de qualidade nos projetos neste campo.

c. Estudo de Alternativas e Escolha do Tipo de Fundação


No contexto da qualidade de um projeto dc fun- dações, cabe agora apenas ressaltar alguns pontos essenciais, sendo o primeiro e mais evidente o fato de que todo o desempenho c a economi cidade de qualquer fundação dependem, fundamentalmente, de ter sido bem escolhido o tipo dc fundação, em cada caso!

No processo de escolha do tipo de fundação se faz sentir de forma mais significativa o poder de julgamento do engenheiro geotécnico, baseado cm seu conhecimento teórico e cm experiência acumulada, sendo que o resultado deste proces-so terá repercussões em todo o restante da obra c da própria vida útil da estrutura que será construída.

Para que este processo possa ser conduzido de forma adequada, minimizando erros e incertezas, deverão ser atendidos alguns requisitos mínimos,  que serão a seguir listados:

1° - Na fase dc anteprojeto (fase preliminar):
Nesta ocasião o engenheiro geotécnico fará uma  escolha preliminar, ainda sem maiores detalhes,  do(s) tipo(s) mais adequado(s) de fundação para  a obra em questão, inclusive objetivando analisar  se há ou não necessidade dc ampliar as investigações geotécnicas com a realização de mais sondagens ou ensaios geotécnicos mais específicos.

A escolha preliminar definirá essencialmente o  tipo básico mais apropriado (sapatas diretas x estacas x tubulõcs), definindo algumas alternativas  viáveis a serem detalhadas na fase seguinte, em  funçào do aprofundamento dos estudos geotécnicos c dc uma orçamcntaçào comparativa.

Para que possa ser bem conduzida esta escolha  preliminar, deve o engenheiro geotécnico ter à sua  disposição, no mínimo, as seguintes informações:

• projeto arquitetônico básico, incluindo plantas, e de preferência também cortes c vistas;
• projeto estmtural básico, contendo no mínimo  informações sobre a concepção estrutural e,  necessariamente, uma planta dc pilares ao nível  da fundação, com as cargas de projeto em cada  pilar;
• relatórios de sondagens, contendo no mínimo  os perfis individuais das sondagens, executadas  de acordo com a norma NBR 6484, e uma planta  de locação destas sondagens.

Considerando a importância que representam  para a viabilização e o bom desempenho de uma  fundação as condições locais do terreno, da ocu- pação c tipo dc constinções existentes nos terre- nos vizinhos c das condições de acesso, é sempre  recomendado "que o engenheiro geotécnico res- ponsável pelo projeto das fundações faça, pesso- almente, uma vistoria ao local, nesta fase dos tra- balhos.

Na seqüência, uma vez realizada a escolha preliminar, poderão ser encomendadas novas investigações geotécnicas envolvendo mais sondagens  ou sondagens com maiores profundidades, son- dagens rotativas, ou ainda ensaios "in situ" ou  amostragens para ensaios laboratoriais.

Também neste momento será importante notificar o projetista da estrutura quanto à escolha preliminar realizada e as suas implicações, de modo  que possam ser avaliadas eventuais necessidades de ajustes ou alterações no projete estrutural em funçào de peculiaridades executivas ou de comportamento do tipo dc fundação adotado. Em certos casos (raros) há até a necessidade dc ser retomado o processo de escolha da fundação, de modo a sc escolher outro tipo, mais compatível com as características e/ou exigências da superestrutura.

Na fase de projeto executivo (escolha definitiva):
Para a elaboração do projeto executivo proccdese à escolha definitiva do tipo de fundação, com um nível de detalhes tal que possam ser dimensionados os elementos para o projeto executivo.

Quando houve escolha preliminar, como se acabou de descrever, a escolha definitiva geralmente não passa de uma ratificação daquela e um detalhamento para as finalidades do projeto executivo. Evidentemente, caso novos estudos, com investigações mais apuradas assim o indiquem, nesta fase a escolha poderá recair sobre tipo(s) difercnte(s) daquele da escolha preliminar. O mesmo pode ocorrer em função de incompatibili-dades com a estnitura, conforme também já foi citado.

Nesta fase, o que diferencia o processo do da fase anterior é o nível de detalhe, seja da solução apresentada, seja das informações requeridas:

• projeto arquitetônico completo, incluindo plantas, cones c vistas com dimensões c cotas definitivas;
• projet o estrutura l executivo , contend o concepção da estrutura, plantas dc pilares ao nível da fundaçã o e de pavimento s (ou posições) relevantes, cargas nos pilares ao nível da fundação, formas e armaçõe s dc vigas baldrames ou de rigidez (caso já tenha sido feito um pré-dimensionament o das fundaçõe s baseado na escolha preliminar) e recalques aceitáveis pelos elementos estruturais;
• relatório complet o das investigaçõe s geo-técnicas, incluindo perfis individuais de todas as sondagens executadas, planta de locação das sondagens, preferencialmente seções do subsolo elaboradas a partir dc perfis individuais;
• relatório s dc investigaçõe s geotécnica s complementares , s e houver , contendo os resultados dc eventuais ensaios "in situ" ou cm laboratório.

Evidentemente, caso não tenha sido feita uma inspeção "in loco' ' na fase anterior (ou no caso de não ter existido fase de escolha preliminar), a vistoria pessoal por parte do engenheiro geotécnico será imprescindível nesta fase.

d. Elaboração do Projeto das Fundações - Dimensionamentos

Uma vez escolhido o tipo dc fundação, dispondose dos dados dos projetos de arquitetura e da estrutura, e de posse das informações geotécnicas  obtidas através das investigações do subsolo, o projetista irá elaborar o projeto das fundações, sob  a égide do binômio "segurança contra ruptura" e "recalque s estimado s limitados aos valores admissíveis".

A elaboração do projeto deverá enquadrar-se nos preceitos estabelecidos pela norma da ABNT NBR 6122 - "Projeto e Execução de Fundações". Para a elaboração do projeto recorrese a várias teorias e métodos teóricos, semi-empíricos e empíricos, envolvendo os diversos assuntos pertinentes como  a capacidade de carga das fundações, os recalques  das fundações, os efeitos de gnipos entre elementos de fundações etc.

Visando garantir a qualidade do projeto, cabe  ao projetista estabelecer procedimentos bem definidos e devidamente embasados, documentando  os seus trabalhos em memoriais circunstanciados  e mantendo a rastreabilidade de todos os passos  executados.

Todos os cálculos, sejam dc dimcnsionairento sejam dc verificação, deverão seguir procedimentos embasados em teorias comprovada s ou  metodologias semi-empíricas ou até empíricas também comprovadas, inclusive na região da obra em  questão c nos tipos dc solos e com os tipos de  fundações envolvidos. Caso o projeto envolva so- los desconhecidos ou tipos de fundações inovadoras, será necessária a comprovação experimental  prévia, antes de se aplicarem teorias ou métodos  ainda nào comprovados nestas condições. Esta  comprovação experimental deve, preferencialmente, incluir provas de carga cm elementos dc funda- ção protótipos, no próprio local da obra.

Nos memoriais dc cálculo devem sempre ser citadas as teorias c os métodos utilizados, inclu- sive rcferenciando-se a sua bibliografia quando  não se tratar de teorias ou métodos universalmente aceitos.

A apresentação do projeto dc fundações deve  conter, no mínimo, os seguintes elementos :

• planta dc locação dos elementos dc fundação,  associada à planta dc pilares, indicando-se as cotas  de arrasamento c de base previstas dos elementos,  suas dimensões nominais e as cargas de trabalho;
• desenho s dc apoi o à execuçã o contendo seções, cortcs, detalhes dos elementos ou dc suas partes c , eventualmente, fases da seqüência executiva;
• desenhos dc armações dos elementos dc fundação  e, quando couber, das formas dos mesmos  (observe-se que, em muitos casos, estes desenhos  assim como os cálculos correspondentes ficam a  cargo do projetista da estrutura);
• memorial circunstanciado do projeto ou memorial  resumido (neste caso o projetista das fundações  deve manter a memória de cálculos cm seus  arquivos, à disposição do cliente e de eventuais  outros demandantes);
• especificações executivas das fundações (em  certos casos estas especificações podem s e  restringir à determinação dc procedimentos preestabelecidos , de conheciment o público ,  disponíveis na literatura técnica, inclusive em  manuais de empresas consagradas).

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A Qualidade das Fundações sob o Ponto de Vista Técnico

A qualidade das fundações do ponto de vista técnico pode ser encarada sob três aspectos básicos:

• qualidade do projeto: envolve desde a correta  escolha do tipo de fundação, qualidade dos dados,  do conteúdo do projeto, entre outros fatores;
• qualidade da execução da fundação: abrange a  qualidade dos materiais empregadas, dos processos  de produção das fundações e controles da execução;
• qualidade da fundação acabada: liberação e  entrega das fundações e comprovação da  qualidade das fundações acabadas.

Tais aspectos serão detalhados a seguir.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Qualidade das Fundações sob o Ponto de Vista Gerencial

Qualidade é, em sua essência, uma forma de gerência, uma vez que a organização para a qualidade é a questão fundamental para o sucesso ou nào da implantação de um sistema da qualidade - SQ. Os aspectos envolvidos na implantação de SQs dizem respeito à documentação e formalização de procedimentos, qualificação de fornecedores, implantação e verificação de ações e, acima de tudo, do treinamento, capacitação, envolvimento e motivação dos recursos humanos.

Após uma breve exposição desses aspectos, será apresentada uma proposta de implantação evolutiva da ISO 9000, baseada num programa francês de avaliação de sistemas da qualidade, onde será possível visualizar como esses pontos podem ser implementados.

a. Qualidade e os Recursos Humanos 

As pessoas sào as principais ferramentas para a implantação de SQs. A ISO 9000 exige a existência de procedimentos habituais de treinamento para a qualidade, inclusive com a participação dos funcionários que opinam sobre quais os recursos prioritários para a sua realização.

Sob o aspecto humano, a cultura organizacional de um país é determinante. No Japão, por exemplo, a cultura de treinamento c qualificação dos funcionários é tào arraigada, que não há procedimentos escritos que a formalizam. Constatada a eficácia do sistema japonês, a nova versão da série KSO 9000 admite a verificação da adequação do treinamento por meio de índices de produtivi- dade, rotatividade de mão-de-obra, não conformidades, etc. ao invés de procedimentos escritos formais.

Na construção civil brasileira, a questão dos recursos humanos é muito mais complexa, dada a alta rotatividade da mão-de-obra, seu baixo nível de qualificação formal e a falta da cultura de treinamento.

Nào há muito sentido em se falar de treinamento para a qualidade, sem antes implantar ações mais fundamentais, como educação básica, treinamento na própria funçào, através de cursos técnicos profissionalizantes c qualificação da mão-de-obra.

Há diversas linhas de pesquisa para melhorar as condições gerais de treinamento c produtividade da mão-de-obra, podendose citar, como procedimento básico, baseado nas teorias de Taylor e na ISO 9000 (Picchi, 1993):

=> padronizar o trabalho, dividindo-o em movimentos elementares;
=> os operários devem ser cientificamente selecionados e treinados para executarem tarefas es- pecíficas;
=> devem ser separados planejamento do trabalho c execução, ficando o primeiro atribuído a engenheiros, através de métodos científicos, cabendo aos operários somente a execução; os ope-
rários devem ser incentivados a atingir as produtividades planejadas através de prêmios e tarefas;
=> concluída essa primeira etapa básica do treinamento, os funcionários devem participar em todas as etapas de um processo de melhoria da qualidade, aproveitando-se o potencial criativo de todos os membros da organização. Isso cria um comprometimento de todos e gera uma motivação para a implantação dos SQs;
=> criar programas participativos para a implantação da qualidade, baseando-se cm técnicas conhecidas tais como: Círculos de Controle da Qualidade, programa Zero Defeitos, entre outras;
=> avaliar periodicamente a necessidade de novas modalidades de treinamento c a eficiência  daquelas já cm uso.

b. Formalização de Procedimentos: Documentação

A documentação dos procedimentos é, por um  lado, um instmmento que permite que os mes- mos possam ser avaliados periodicamente c revistos, até por uma terceira parte (caso de certificação  ISO, por exemplo) e por outro lado um primeiro  passo para a reflexão dos procedimentos habitualmente utilizadas e a criação da "memória" da empresa. Essa documentação deve ser elaborada,  identificada c controlada de forma a permitir a  rastreabilidade de informações.

São exemplos de documentos necessários para  a formalização dos procedimentos, em ordem de  abrangência: o Manual de Garanti?, da Qualida- de-MGQ, o Programa da Qualidade-PQ (os conteúdos mínimos do MGQ c do PQ constam da  ISO 9000), as especificações ou procedimentos,  os registros da qualidade (listas de verificação,  as especificações dc insumos e de serviços con- tratados, qualificação de fornecedores, entre outros), os documentos das auditorias internas c o  procedimento para o controle da documentação.

Manual tle Garantia da Qualidadc-MGQ  

O Manual dc Garantia da Qualidade deve fornecer uma descrição do sistema da qualidade  como uma referência permanente. Deve conter  (ISO 9004-2/1993):

• a política da qualidade;
• os objetivos da qualidade (metas a serem atingidas c meios para obtê-las);
• a estrutura da organização, incluindo as  atribuições e delegações das responsabilidades  de cada setor ou célula de trabalho, inclusive  das interfaces existentes;
• descrição do sistema da qualidade, incluindo  todos os elementos e provisões que fazem parte deste (especificações, registros da qualidade,  control e da documentação , control e da  expedição do produto ou serviço, análise de mercado, rctroavaliaçào, qualificação de  fornecedores, fluxo de decisões, recursos humanos e materiais, análise c avaliação de
desempenho etc.) ;
• as práticas da qualidade da organização;
• a estrutura e a distribuição da documentação do sistema da qualidade. 

Programa ou Plano tia Qualidade - PQ

É um documento que descreve as práticas da  qualidade, os recursos e a seqüência de ativida- des no processo.

Procedimentos
São instruções escritas que especificam o objetivo e a abrangência das atividades da organização, definem o modo como as atividades devem ser conduzidas, controladas e registradas.

Registros da Qualidade

Os registros da qualidade sào documentos para análise, avaliação do sistema da qualidade e tomada de ações corretivas. Como exemplos de registros, podem ser citados: metodologia para a  qualificação de fornecedores, as listas de verificação, além de indicadores sobre o nível de satisfação dos clientes, sobre a habilidade e treinamento de pessoal e sobre a eficiência do sistema da qualidade adotado.

A qualificação de fornecedores é um instrumento para classificaçã o e seleçã o dc empresa s prestadoras de serviço ou fornecedoras de insumos, através da especificação dos insumos e medidores de desempenho do serviço, tais como atrasos nos prazos estabelecidos, disponibilidade do fornecedor, atendimento etc.

As listas de verificação têm como função primordial a dc padronizar um procedimento de análise que envolve os aspectos de adequação, clareza e consistência das informações relativas a cada
etapa do processo. A conformidade dos produtos ou serviços com as especificações é verificada nessa etapa. O resultado dessa análise será, portanto, objetivo e deve ser registrado a fim de se  obter as informações faltantes.

Os registros da qualidade devem ser adaptados a cada empresa e às suas necessidades.

c. Aplicação da ISO 9000 nas Empresas da Área de Fundações

A implantação dc sistemas da qualidade nas empresas exige a definição dos objetivos da qualidade, a conscientização e a participação das equipes. Dependendo do porte e cultura organizacional da empresa, a implantação tem que ser gradual e acompanhada dc índices de avaliação, tais como: porcentagem de redução de custos de retrabalho, aumento de faturamento etc. O atendimento às metas estipuladas deve ser verificado periodicamente e novas metas estabelecidas.

fatores administrativos e técnicos, variando dc  empresa para empresa. A título de exemplo, na  França há um programa de avaliação do nível da implantação de sistemas da qualidade de empresas da construção civil. Fssa avaliação resulta numa  classificação de A a D, onde A corresponde ao  nível de implantação mais próximo da ISO 9001 e  D, ao nível mais elementar. Tal classificação é  pública, a exemplo dos "Avis Techniquc" para produtos, c orienta a contratação dc projetos e cbras,  de natureza pública ou privada dc maior complexidade. É um processo evolutivo e voluntário com  base nas premissas apresentadas na Tabela 19-3 e  a "nota" é dada por entidades de auditoria e  consultoria privadas (Qualitel, Qualibat etc.). No- tem quais as atividades, do ponto de vista de gestão, que são consideradas cm cada etapa c como  elas evoluem ao longo da implantação do Sistema.

A seqüência apresentada pode ser uma sugestão genérica, do ponto de vista organizacional,  para a implantação gradual de um sistema da qua- lidade cm empresas de construção civil, c cm particular dc fundações.

Classificação do nível de implantação de Sistemas da Qualidade-SQ em empresas de construção civil,  segundo o modelo francês

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Especifícidades das Obras de Fundações

Dentro do campo de atuação da construção civil, a geotecnia sc destaca pela característica de envolverse com os maciços do terreno "in natura", com todas as variabilidades que estes maciços apresentam, graças à sua evolução ao longo das eras geológicas.

Ao contrário da imensa maioria das atividades produtivas industriais c, inclusive, da maioria também das outras atividades da construção civil, no caso da geotecnia — em especial as fundações — a atividade produtiva desenvolve-se sobre um material preexistente nào escolhido, c inclusive não passível de perfeita identificação. Por mais que sejam executadas boas investigações e feitas amostragens de boa qualidade, sempre há possibilidades de "surpresas geológicas", de comportamentos não totalmente previstos e de variabilidades não totalmente mensuráveis "a priori".

Assim, a Engenharia de Fundações deparase sempre com riscos muito mais elevados de enfrentar condições desconhecidas ou inesperadas do que todas as outras áreas da construção civil, à exceção talvez de algumas questões das instalações e produtos de proteção contra intempéries, quando envolvem condições meteorológicas ex-tremas e das instalações e proteções de segurança contra atos de sabotagem, vandalismo etc.

Na Engenharia de Fundações trabalha-se com um binômio do "conhecido x desconhecido", ou seja, da fundação enquanto elemento estrutural (sapata, tubulão, estaca) perante o maciço terroso ou rochoso "in situ". Para o projeto procurase conhecer o melhor possível este maciço e, através de investigações de campo e laboratório, caracterizar suas propriedades, prever seus comportamentos, especialmente na interação com o elemento estrutural a ser implantado neste maciço.

Não sendo possível controlar as propriedades do maciço "in situ", como num outro processo produtivo se controlam as propriedades das matérias-primas, na Engenharia de Fundações pro-cura-se investigar estas propriedades para conhecêlas tanto quanto possível dentro das limitações impostas pela disponibilidade de recursos que seja possível — ou razoável — aplicar em tais investi-gações. A partir do quadro então elaborado — conhecimento parcial das características do terreno e das propriedades dos materiais constituintes — é elaborado o projeto, adequando as fundações a cada terreno e exigências específicas, inclusive escolhendo o tipo mais adequado e dimensionando os elementos. Como o conhecimento do terreno é sempre limitado, durante a execução das fundações sào então feitas adequações c correções que, na maior parte das vezes, implicam modificações nas cotas cie apoio/com-primentos dos elementos para ajustá-los às exigências quanto às cargas admissíveis e aos recalques esperados.

Os controles utilizados na execução das fundações variam de tipo para tipo, uns permitindo até o ensaio dc carregamento de cada elemento (estacas cravadas) enquanto em outros os controles se limitam aos aspectos dimensionais e qualidade dos materiais do elemento estrutural (sapata ou tubulào), sendo a qualidade do maciço apenas inferida a partir da experiência profissional do engenheiro de fundações.

Vê-se pois que o "modus operandi" da engenharia de fundações é diferente das outras modalidades presentes na construção civil, onde se projeta a priori o que se deseja, escolhe todos os materiais e insumos intervenientes e, posteriormente, procura garantir que a execução siga fielmente o projeto para que se obtenha o produto desejado, seja ele um elemento da estrutura de concreto armado, da instalação elétrica, uma porta ou um piso, por exemplo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Construção Civil e a Questão Ambiental no Contexto da Qualidade

A Construção Civil é, certamente, um dos ramos da atividade humana que mais intensamente interfere no Meio Ambiente, produzindo alterações ("impactos") ambientais que afetam extensas regiões e que podem perdurar por períodos de tempo muito longos ou até indefinidamente. Tais alterações ambientais podem inclusive ser tào prejudiciais que qualquer recuperação da região ou da espécie atingida torna-se impraticável.

Entende-se por Meio Ambiente, neste trabalho, o espaço no qual a obra civil sc insere e interfere, incluindo os seres vivos, numa interação dinâmica e contínua.

Entre as obras construídas pelo l lomem, aquelas que maiores impactos produzem no meio ambiente envolvem as usinas nucleares (principalmente pela gravidade de potenciais acidentes), as barragens (pela formação de lagos artificiais, com inundação dc grandes áreas dc terra), as rodovias e ferrovias (pelas grandes extensões destas obras, ao longo das quais sào alteradas a topografia, o revestimento do solo e as linhas de drenagem) e, finalmente, as ocupações urbanas, quando vistas em "escalas macro ", uma vez que alteram por com-pleto todas as características de regiões às vezes
de grande extensão, como no caso das metrópo-les urbanas modernas.

Devido a este poder impactantc no meio ambiente c que na maioria dos países foram criadas, nos últimos anos, leis c códigos que orientam, regulamentam e inclusive restringem a implantação de obras civis de maior porte e capazes de causar impactos ambientais significativos. No Brasil todas as atividades de Construção Civil de maior vulto, como por exemplo aquelas descritas acima, só podem ser executadas após as devidas análises por órgãos de controle ambiental federais, estaduais, e, cm certos casos, até municipais. No âmbito federal, qualquer projeto de obra civil de tal porte, como por exemplo a implantação de barragens para a criação de represas para a geração de energia ou abastecimento d'água, dc ro-dovias, ferrovias, dutovias, usinas termoelétricas ou termonucleares etc., deve obedecer aos pre-ceitos da Resolução n° 01 do Conama - Conselho

Nacional do Meio Ambiente, sendo as avaliações e aprovações delegadas aos órgãos estaduais de meio ambiente, como o Conama - Conselho Estadual tio Meio Ambiente, que apóia suas declsõcs cm estudos e análises realizadas pelas equipes técnicas da secretaria estadual específica.

Para o fim de atender aos preceitos constitucionais, está em vigor a Lei Federal 6.938 de 31/ 08/81, com as alterações introduzidas pelas Leis 7.80 Í de 18/07/89 c 8.028 dc 12/0-1/90, a qual está regulamentada pelo Decreto Federal 99.27'í de 06/ 06/90, com redação dada pelos Decretos 99.355 de 27/06/90 e 122 dc 17/05/91, que dispõem sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismo dc formulação c aplicação. No âmbito do Estado de São Paulo, por exemplo, está em vigor a Lei 997 de 31/05/76, regulamentada pelo Decreto 8/Í68 de 08/09/76, a qual dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente.

Nos demais Estados da federação, assim como em muitos municípios, também existe legislação específica para dispor sobre esta matéria.

Nos modernos projetos das obras civis procurase minimizar os impactos no meio ambiente e restringir ao mínimo imprescindível os danos ambientais produzidos por estas obras. Algumas exigências evidentes, c que no passado eram negligenciadas, dizem respeito por exemplo às áreas sujeitas às obras dc terraplenagem, que devem ser recuperadas durante ou pelo menos ao final da implantação dos empreendimentos, dc modo a restaurar a col>crtura vegetal com espécies ade-quadas à região cm "áreas dc empréstimo" ou de "bota foras1", assim como nos taludes dc cortes c aterros. Outra exigência usual diz respeito à qualidade das águas represadas ou lançadas nos cursos d'água, que deverão obedecer a certos pa-drões, adequados a cada caso em questão.

Todas as medidas necessárias para garantir a obediência a tais exigências, assim como os estu-dos demandados para a sua concepção e os acréscimos de trabalhos nos projetos de engenharia envolvidos, demandam custos adicionais que se somam aos demais custos das obras e, eventualmente, prazos também maiores. No entanto, ao se analisar a questão por um enfoque mais amplo e que envolva períodos maiores dc tempo, é evidente que tais acréscimos de custos e de prazos nas obras civis sào irrisórios, perante os ganhos de qualidade dc vida que deles resultam para a comunidade e especialmente para as gerações futuras que irão poder desfrutar dc condições ambientais mais preservadas e utilizar os recursos naturais cada vez mais escassos no planeta.

Neste contexto mais amplo, a Construção Civil ainda tem um longo caminho a percorrer até que se atinjam condições ideais no projeto, na implantação c na operação das obras civis, do ponto de vista ambiental. Porém os primeiros passos já foram dados, dc início vacilantes, depois com maior firmeza e objetividade. Certamente as atuais normas e regulamentos de caráter ambiental terão também que evoluir bastante nos próximos anos, ajustando-se às necessidades da sociedade e, em es-pecial, às necessidades futuras desta sociedade.

Isto já vem ocorrendo nos países mais desenvolvidos, especialmente na Europa, inclusive devido
à mais intensiva ocupação e utilização do solo, maior densidade demográfica e mais avançado estágio de industrialização. A legislação e as normas européias neste âmbito, particularmente as da Alemanha, são bastante restritivas e nào podem ser aplicadas à realidade brasileira sem prévias adequações e alterações, porém podem servir de balizamento para o estabelecimento da legislação em nosso país.

Cabe aos profissionais da Construção Civil nào só um papel passivo de se enquadrar na legislação promulgada c obedecer aos regulamentos estabelecidos mas também o de participar ativamente na elaboração de novas normas e regulamentos que tenham, por um lado, o essencial espírito de defender as condições ambientais, preservando os recursos tão escassos e importantes para a humanidade, mas que, por outro lado, permitam florescer a engenhosidade c inventividade dos engenheiros e demais profissionais atuantes neste campo, tirando melhor proveito da capacidade destes profissionais e dando oportunidade
ao desenvolvimento do setor, um dos mais importantes da atividade humana c também um dos
maiores geradores de empregos e da própria ocupação do ser humano ao longo dos tempos.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL - Aprovações Técnicas

É de conhecimento geral a ausência dc procedimentos de regulamentação de tipos dc sistemas  construtivos, especificações técnicas de materiais e componentes, normalização, penalidades no caso de desempenho inadequado do produto ou partes dele, códigos dc edificações eficientes, leis de uso e ocupação do solo, entre outros; que sào instrumentos de avaliação de desempenho e de atribuição dc responsabilidades e que, como tais, possibilitam a melhoria da qualidade das edificações e das obras de infra-estrutura urbana.

Um dos instrumentos internacionalmente utilizado para diminuir essa lacuna é a chamada "aprovação técnica". A aprovação técnica é uma avaliação positiva de um produto, serviço, projeto ou sistema construtivo, efetuada por um organismo técnico, independente do produtor e do consumidor do objeto da aprovação. Quando o produto é tradicional, em geral existe uma normalização à qual deva obedecer c a aprovação técnica é, na verdade, uma certificação de conformidade para com esta normalização. Quando o produto é inovador c desconhecido, ou ainda, no caso de projetos, serviços c sistemas construtivos, o processo de avaliação técnica é denominado homologação, sendo que o nome comercial da homologação
varia de instituição para instituição e de país para país. No Brasil, o IPT-Instituto de Pesquisas Tecno-lógicas do Estado de São Paulo introduziu pioneiramente, cm 1994, um sistema dc homologação, comercialmente denominado Referência Técnica - RT-1PT, nos moldes do "Avis Technique", na França, do "Documento de Idoneidad Técnica", na Espanha, e do "Approval", na Inglaterra.

As aprovações técnicas, quais sejam a certificação ou marca de conformidade e a homologação de produtos, podem ser, uma vez consolidadas en-quanto procedimentos de análise, incorporadas a regulamentações oficiais c códigos dc edificações, a exemplo do que ocorre em outros países, gerando uma sinergia de esforços na garantia da qualidade na indústria da construção civil.

Os benefícios da aprovação técnica respondem ao menos a três necessidades essenciais das economias modernas:

• visam, inicialmente c antes de tudo, melhor vender, trazendo ao mercado a prova objetiva, proveniente de um organismo independente, de que o produto proposto dispõe, efetivamente, das características de desempenho próprias para responder às necessidades dos clientes. As aprovações técnicas conferem uma vantagem comercial para aqueles que as detêm, cm relação aos produtos concorrentes de uso análogo;
• são, também, o meio de melhor comprar. Dar preferência a um produto referenciado é obter, ao menor custo, garantias quanto à conformidade de sua aquisição, pois nào será mais necessário ao comprador proceder, ele mesmo, aos controles;
• a aprovação técnica pode, igualmente, ser utilizada com proveito pelo Estado para melhor regulamentar. Aceitar a certificação voluntária como um dos modos dc prova da confomiidade de um produto às cláusulas de regulamentação, permite, por um lado, evitar controles supérfluos e, por outro, assegurar uma perfeita sinergia entre práticas comerciais e dispositivos regulamcntares.

A certificação ou marca de conformidade aparece, para produtos normalizados, como instnimento de avaliação eficaz, tendo em vista seu aspecto legal dc atribuição de responsabilidade (no caso de falta de qualidade) e de proteção ao consumidor, ainda que nào evite ausência da qualidade em algumas situações, tais como cm obras com uso intensivo de materiais novos ou desconheci -dos.

Sistemas construtivos inovadores, ou novos produtos que careçam de referências normativas para julgamento dc sua aptidão ao uso, ou, ainda, com-ponentes cujo desempenho está intimamente ligado à forma de utilização e aos componentes instalados conjuntamente, devem ser avaliados com outros critérios, base de um sistema de ho-mologação e que serão objeto do item b.

As vantagens das aprovações técnicas, em síntese, são:

• aument o de eficiênci a no projeto , pel o conhecimento das propriedades do produto "aprovado" , facilidade s na obtençã o de aprovaçã o pel o pode r competent e c na construção, pela redução de controle s de recebimento, facilidades nos contratos de fornecimento e simplificação dos processos de qualificação dos fornecedores;
• facilidade na identificação dos produtos cuja qualidade é controlada na fabricação e garantida pelo fabricante;
• a clara identificação dos potenciais de uso c dos limites de utilização dos produtos aprovados;
• a aceitação mais rápida de novos produtos com melhor relação desempenho/custo;
• produtos aprovados são mais facilmente aceitos como produtos de qualidade;
•o s procedimento s de aprovaçã o técnic a asseguram a revisão periódica dr.s exigências e a reavaliação de todos os produtos aprovados;
• os procedimentos dc aprovação técnica contêm especificações que facilitam o reconhecimento mútuo dcprocedimentos similares dc outros países, facilitando o comércio internacional;
• a aprovação técnica de produtos novos ou inovadores reduz o risco envolvido na pesquisa, desenvolvimento e lançamento do produto.

a. Certificação de Conformidade de Produtos
A primeira marca de conformidade da qual se tem notícia surgiu em 1949. A ISO-International
Organization for Standardization. criou um comitê  para tratar da questão dos consumidores, preocu-pada inicialmente apenas com as marcas de con-formidade, conforme explicitado no próprio título da comissão: "Marcas indicativas da conformidade com as normas". Essas marcas, representadas por um selo ou etiqueta, visavam garantir que um item estava conforme as normas, sem ainda relacionar a marca com qualquer conceito de qualidade do processo de fabricação, tampouco com constância da qualidade ao longo do tempo. F a chamada marca-símbolo.

A marca-símbolo, cm princípio, poderia até ser dada pelo próprio fabricante (é a chamada "self-certification" ou "two party certification"). Esse tipo de certificação gerou uma certa insatisfação de-
corrente da existência de itens não conformes sem  avaliação por parte dc uma entidade isenta.

Ficou patente a necessidade dc a certificação  ser realizada por uma terceira entidade, fora da relação fabricante-consumidor, considerada por ambos como idônea e neutra, é a chamada "third party certification".

Esse tipo de certificação é o mais utilizado atualmente. Para facilitar a aceitação de produtos certificados em seu país de origem pelo país comprador, foram criados modelos dc certificação mundialmente aceitos, os modelos da ISO.

Os Modelos da ISO
Os modelos de sistemas de certificação por uma terceira entidade identificados pela ISO são:

• MODELO 1: Ensaio dc tipo. Ensaio de uma amostra do produto com o objetivo dc verificação de conformidade a normas ou especificações técnicas definidas. Esse sistema representa a marca-símbolo, já mencionada anteriormente.
 
• MODELO 2: Ensaio dc tipo seguido por supervisão subseqüente através dc ensaios de amostras adquiridas no mercado.
 
• MODELO 3: Ensaio de tipo seguido por supervisão subseqüente através de ensaios dc amostras retiradas da fábrica.

• MODELO 4: Ensaios dc tipo seguido por supervisão subseqüente através de ensaios dc amostras adquiridas no mercado c retiradas na fábrica. Este sistema combina as vantagens dos dois anteriores.

• MODELO 5: Ensaio de tipo, verificação e aceitação do controle da qualidade da fábrica seguidos por supervisão que leva cm conta o acompanhamento do controle da qualidade da fábrica e o ensaio dc amostras, tanto retiradas na fábrica quanto adquiridas no mercado. Este modelo incorpora ao anterior a verificação inicial, a aprovação e o acompanhamento subseqüente dos procedimentos de controle da qualidade implementados pelo fabricante. É o mais utilizado para concessão da marca dc conformidade. 

• MODELO 6: Verificação do controle da qualidade rm fábrica objetivando apenas a sua aceitação.
Esse modelo visa, através da avaliação dos métodos dc produção utilizados, do controle da qualidade industrial , dos equipamento s existentes c dc seu laboratório, verificar a capacidade da empres a dc produzi r um determinado produto. A desvantagem deste sistema reside no fato de que o produto nào
pode ser certificado quanto á conformidade com especificações, uma vez que nào ocorre nenhum ensaio dc tipo. Esse modelo foi a base da criação da ISO 9000, que pressupõe que, se o sistema da qualidade industrial é adequado, o produto, conseqüentemente deva sê-lo.

• MODELO 7: Ensaio dc lote do produto. Neste
caso um lote do produto é ensaiado, após ter
sofrido um processo dc amostragem, c é
verificada a sua conformidade a normas ou
especificações técnicas específicas.

• MODELO 8: Ensaio Total. Nesse caso, o lote sofre uma inspeção dc 100%, isto é, os produtos sào
ensaiados um por um, sendo certificados apenas  aqueles que forem aprovados.

A Tabela 19.2 apresenta um resumo das principais características dos oito modelos apresentados.
Observando o quadro, nota-se que o único modelo que alia a avaliação contínua do produto com a auditoria do controle dc qualidade é o de número 5. A marca baseada nesse modelo minimiza ambigüidade e inadvcrtência do consumidor que, ao contrário do comprador industrial, raramente possui conhecimento técnico sobre os Ixms que adquire; esse é o motivo fundamental para que a maioria dos organismos certificadores do mundo escolham esse modelo.

Resumo das características dos modelos de certificaçao da ISO
Tabela 19.2 Resumo das características dos modelos de certificaçao da ISO

Supondo que o órgão ccrtificador tenha estrutura que permita a escolha dc laboratório dc ensaio e agências de inspeção, ele deverá obedecer algumas exigências básicas, resumidas nas condições que a ISO Guide 25 estabelece.

Sob a questão dos aspectos legais c contratuais de um sistema dc certificação há um contrato esclarecendo as obrigações que o fabricante tem que assumir para poder receber a licença do uso da marca.

Além dc respeitar o contrato, o fabricante deve:

• manter um controle da qualidade cm suas instalações, que inclua atividades dc ensaio e inspeção contínuas do produto que ostenta a marca;
• permitir as auditorias feitas pelo órgão ccrtificador;
• obedecer aos critérios impostos pelo órgão no que diz respeito à qualidade dos produtos e dos processos produtivos;
• facilitar o livre acesso do órgão (ou agência de inspeção representativa do mesmo) às suas instalações, documentação e registros, c permitir a utilização de seus equipamentos de ensaio quando necessário;
• remover do mercado os produtos que ostentam a marca e remover a marca daqueles que ainda estão nas instalações industriais, caso o órgão considcrc que cies não estão conformes;
• tomar as ações corretivas indicadas pelo órgão no caso de produtos nào conformes.

Apesar dc toda a cautela tomada no contrato, pode ocorrer o mau uso da marca. O mau uso pode ser dc responsabilidade do fabricante, caso ele seja caracterizado por ostentação da marca cm produtos nào conformes ou com defeitos de fa-bricação, ou ainda no caso dc utilização da marca sem autorização do órgão ccrtificador; ou pode ser de responsabilidade do órgão, no caso da utilização de normas inadequadas para a certificação de um dado produto.

A açào que o órgão certíficador tomará no caso cie mau uso depende de alguns fatores tais como: leis do país onde o mau uso ocorre, a natureza do contrato feito entre as partes, a seriedade do mau
uso e se o mau uso foi inadvertido ou deliberado.

Quando o problema ocorrido for a utilização de normas inadequadas, o órgão certíficador deve providenciar, o quanto antes, a revisão da norma para eliminar o problema, e exigir que todos os produtos certificados atendam a esse novo critério assim que a nova norma for publicada.

Em Geotecnia já é possível, por exemplo, a certificação de amostradores e equipamentos para sondagens de simples reconhecimento dos solos, se-gundo a NBR 6484/80. e de equipamentos para execução de prova de carga, segundo a NBR 6489/ 68. Já serviços e outros produtos geotécnicos po-dem ser objeto dc homologação, conforme será discutido a seguir.

b. Sistemas de Homologação

O primeiro sistema de homologação, na Construção Civil, surgiu na França, em 1945, graças à necessidade do Estado em construir e reconstruir um grande número de edificações, com escassez
de recursos humanos e materiais, devido aos danos oriundos da Segunda Guerra Mundial. Para
que o Estado francês protegesse o enorme investimento que faria, do risco desconhecido da utilização de novas técnicas, ele criou o "avis technique", um sistema de aprovação técnica.

Novas tecnologias só seriam utilizadas nas obras do Estado se sofressem prévia avaliação de seu desempenho, por um organismo técnico independente, e fossem devidamente "aprovados". Em 1947, o Estado Francês criou o CSTB-Centre Scientifique et Technique du Bâtiment, que é o órgão técnicoindependente responsável pelas

Aprovações Técnicas na França até os dias de hoje e que é o "pai' dos sistemas de homologação.

O sistema de homologação é baseado em requisitos e critérios de desempenho que permitem verificar se o produto, aqui entendido como um sistema constnitivo ou um elemento ou ainda como um componente ou material inovador, atende às condições estabelecidas, além de avaliações sobre o seu controle do processo produtivo e da montagem. Tais avaliações são efetuadas através de:

• ensaios e medidas, tanto em laboratórios como em protótipos do produto ou partes dele;
• modelos matemáticos ou físico-matemáticos que simulam o comportamento do produto diante de determinadas condições de expcsiçào — como exemplo, pode-se citar a simulação do comportamento térmico de um sistema construtivo perante determinadas condições climáticas, cm computador;
• julgamento técnico, baseando-se no conhecimento de especialistas e experiências acumuladas;
• inspeções realizadas em protótipos ou em produtos já em uso.

As condições de exposição sào devidas aos fenômenos de origem natural (ventos, chuvas, radiação solar, temperatura etc.), de origem externa ao produto (impactos externos) e devidas à utilização do produto (sobrecargas de utilização, choques devidos ao uso, focos de incêndio etc.).

Os requisitos e critérios de desempenho consistem na tradução das exigências humanas para regras da qualidade, definidas objetivamente, que devem ser atendidas pelo produto. São expressos como níveis de segurança, habitabilidade e durabilidade passíveis de serem obtidos através dos meios já discutidos. 

A homologação é fornecida após a obtenção de resultados favoráveis nào só nas avaliações de desempenho, mas também nas verificações efetuadas junto aos processos de fabricação e montagem do produto a fim de constatar a continuidade do controle da qualidade dessas operações.

No caso específico das fundações, as condições a que um determinado tipo dc fundação deve aten-der variam em função do tipo da obra, das condições do solo, da presença de águas agressivas, entre outros fatores que serão avaliados no item 19-2- Tais condições deveriam ser satisfatoriamente atendidas e verificadas, por exemplo, através de monitoração periódica da fundação real ou protótipos em campos de prova para receberem a homologação.

Um produto ou técnica não pertence ao campo da homologação para sempre. Na medida em que o conhecimento do produto e de seu comportamento ao longo do tempo sc consolide, é possível o desenvolvimento dc especificações de projeto, execução e o desenvolvimento dc métodos de ensaio para a avaliação do produto. Sua utilização torna-se tradicional e ele se torna passível de receber uma marca dc conformidade.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

FUNDAÇÕES QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Introdução

As primeiras preocupações, em termos gerenciais,  com a qualidade de produtos aconteceram com o  advento da revolução industrial. Durante a Segun- da Guerra Mundial, houve uma difusão do contro- le estatístico da qualidade, principalmente nas indústrias americanas , baseado em técnicas de  amostragem e estatística desenvolvidas na década  de 30. Esse controle estatístico atestava a conformidade dos produtos a uma especificação: é o que se denomina qualidade de conformidade.

Surge, na década de 60, no Japão, o conceito de qualidade total TQC, definido como a soma da qualidade de projeto com a qualidade de conformidade com a especificação, objetivando a satisfação do usuário. O conceito evolui para uma abordagem preventiva, ou seja, a qualidade final do produto passa a ser obtida fundamentalmente através da prevenção de falhas.

O TQC. no Ocidente, foi fortemente influenciado pela Teoria de Sistemas, gerando os primeiros con-ceitos de Garantia da Qualidade e mais tarde os de Gestão da Qualidade, expressos na ISO 9000 e seguidos, na década de 80, por diversos setores, desde os nucleares, aeroespaciais e aeronáuticos, que foram os pioneiros, até o petrolífero e automobilístico.

A indústria da constniçào civil, do ponto dc vista da qualidade, é atrasada em relação a outrossetores industriais apesar da sua incontestável importância para a economia de qualquer país, qualquer que seja o parâmetro para avaliação: participação no produto interno bruto-PIB (no Brasil, cerca de 7%), na População Economicamente Aliva-PEA (absorve 6,5% no país), no capital empregado, etc.

Dentre os subsetores da construção: o de edificações (residenciais, comerciais, industriais etc.); o da construção pesada (infra-estrutura viária, urbana e industrial; obras dc arte; obras de saneamento; barragens; usinas etc. ) e o da montagem industrial (sistemas dc geração, transmissão e dis-tribuição de energia elétrica; sistemas de exploração dc recursos naturais; sistemas de telecomunicações etc.), há diferenças significativas no que se refere à qualidade.

Nos setores da construção pesada e no de montagem industrial a implantação dc sistemas de qualidade já remonta a muitos anos, antes mesmo da existência da ISO 9000, mesmo no Brasil. Vários sào os motivos para isso, destacando-se a complexidade das obras, as maiores exigências em relação
à segurança c as grandes importâncias envolvidas.

A construção civil, guardadas as devidas proporções entre seus subsetores, apresenta características próprias, que favoreceram seu atraso em relação aos outros setores industriais, e que sào apontadas por Meseguer (1991) : um caráter nômade, produtos únicos c nào seriados; uso intensivo de mão-de-obra; produto fixo e operários móveis, ao contrário da produção em cadeia, dificultando a organização c controle; indústria tradicional , com grande inércia às alterações; trabalho sujeito às intempéries; emprego de especificações complexas ; responsabilidades dispersas e pouco definidas; grande número de intervenientes e longo ciclo de aquisição e uso, minimizando o desenvolvimento de senso crítico por parte do comprador.

Picchi (1993 ) apont a aind a qu e o subseto r de edificações apresenta uma produtividade menor do que em outros países; desperdício elevado, da ordem de 30% cm custo; desenvolvimentos tecnológicos recentes sem priorizaçào da quali-dade e uma cultura de convivência com esse quadro. Esses fatores, entretanto, vêm sofrendo mudanças, indicando uma tendência clara no sentido de uma maior preocupação com a qualidade e seus métodos de gestão.

As atividades relacionadas com a gestão da qualidade em edificações iniciaram-se e mantiveram-se por várias décadas quase que exclusivamente voltadas ao controle da qualidade dc alguns ma-teriais e insumos, particularmente para instalações elétricas c para uso estrutural, tais como o aço c o concrcto.

Durante anos considerou-se absolutamente normal que, por exemplo, materiais elétricos (fios, fusíveis, interruptores ctc.) deveriam ser submetidos a um controle dc qualidade rigoro-so (devido ao risco dc incêndio), enquanto os processos dc produção dc escavações c fundações, alvenarias e revestimentos de paredes e lajes ctc. continuavam a ser executados por trabalhadores com baixo nível de treinamento, sem
nenhum envolvimento com os conceitos dc qualidade e sob precários controles dc mestres-de-obra cuja experiência está baseada cm tradições pouco científicas e com reduzido "input" tecnológico.

Alguns conceitos já consolidados, tais como: controle tecnológico de materiais, particularmente para uso estrutural; avaliação dc desempenho; estudo dc durabilidade dos materiais c componentes; estudo dc patologia das edificações; náo foram efetivamente integrados a enfoques mais amplos c sistêmicos da gestão da qualidade, utilizados nos demais setores industriais. Na área dc fundações, cm particular, nem todos esses conceitos estão plenamente desenvolvidos. O "controle tecnológico" do material "solo", por exemplo, na maioria das obras dc edificações, rcstringc-sc ain-da à execução de sondagens de simples reconhecimento.

Atualmente, nota-se um interesse crcsccntc entre as empresas no aprimoramento da qualidade gerado pela globalização da economia, pelo maior grau dc exigência dos clientes, particularmente após a criação do Código dc Defesa do Consumidor, cm 1991, e pela grande competitividade gerada por esses fatores.

Tal gestão na construção civil renderá, como já está a render cm alguns setores e cm algumas empiesas, além de produtos (obras) que satisfarão integralmente seus clientes, economias significativas pelo fato de:

• evitar desperdícios, com minimizaçâo na produção de sobras, entulhos, resíduos;
• evitar "retrabalhos" pela produção correta e adequada dc cada item na execução, dc modo a eliminar demolições parciais, desmontes, reformas ou remendos no que já foi produzido;
• obedecer prazos, concatcnando todas as etapas e tarefas, pelo correto planejamento dc todas as  atividades;
• aumentara produtividade dos trabalhadores pelo seu real engajamento no fluxo produtivo, a partir de um adequado treinamento e de uma conscientização do papel c da importância de cada indivíduo no contexto geral da obra;
• diminuir a incidência de patologias, após a obra concluída.
• diminuir os custos dc manutenção das obras civis, pela correta escolha de produtos c técnicas para uma dada condição dc serviço.

Os instrumentos para a melhoria da qualidade na constnição dc edificações baseiam-se no princípio dc Galilcu Galilei, século XVII: "É necessário medir o que c mensurável e tornar mensurável aquilo que não o é". Os métodos dc gestão da ISO 9000 fundamcntam-sc na documentação dos processos, inclusive os administrativos, para poder planejar, executar, demonstrar, testar, examinar, avaliar, decidir e agir; os processos de aprovação técnica também se baseiam cm retirara subjetividade dos julgamentos; com base cm requisitos c critérios dc desempenho mensuráveis e objetivos, conforme será relatado a seguir.

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