Ao contrário da imensa maioria das atividades produtivas industriais c, inclusive, da maioria também das outras atividades da construção civil, no caso da geotecnia — em especial as fundações — a atividade produtiva desenvolve-se sobre um material preexistente nào escolhido, c inclusive não passível de perfeita identificação. Por mais que sejam executadas boas investigações e feitas amostragens de boa qualidade, sempre há possibilidades de "surpresas geológicas", de comportamentos não totalmente previstos e de variabilidades não totalmente mensuráveis "a priori".
Assim, a Engenharia de Fundações deparase sempre com riscos muito mais elevados de enfrentar condições desconhecidas ou inesperadas do que todas as outras áreas da construção civil, à exceção talvez de algumas questões das instalações e produtos de proteção contra intempéries, quando envolvem condições meteorológicas ex-tremas e das instalações e proteções de segurança contra atos de sabotagem, vandalismo etc.
Na Engenharia de Fundações trabalha-se com um binômio do "conhecido x desconhecido", ou seja, da fundação enquanto elemento estrutural (sapata, tubulão, estaca) perante o maciço terroso ou rochoso "in situ". Para o projeto procurase conhecer o melhor possível este maciço e, através de investigações de campo e laboratório, caracterizar suas propriedades, prever seus comportamentos, especialmente na interação com o elemento estrutural a ser implantado neste maciço.
Não sendo possível controlar as propriedades do maciço "in situ", como num outro processo produtivo se controlam as propriedades das matérias-primas, na Engenharia de Fundações pro-cura-se investigar estas propriedades para conhecêlas tanto quanto possível dentro das limitações impostas pela disponibilidade de recursos que seja possível — ou razoável — aplicar em tais investi-gações. A partir do quadro então elaborado — conhecimento parcial das características do terreno e das propriedades dos materiais constituintes — é elaborado o projeto, adequando as fundações a cada terreno e exigências específicas, inclusive escolhendo o tipo mais adequado e dimensionando os elementos. Como o conhecimento do terreno é sempre limitado, durante a execução das fundações sào então feitas adequações c correções que, na maior parte das vezes, implicam modificações nas cotas cie apoio/com-primentos dos elementos para ajustá-los às exigências quanto às cargas admissíveis e aos recalques esperados.
Os controles utilizados na execução das fundações variam de tipo para tipo, uns permitindo até o ensaio dc carregamento de cada elemento (estacas cravadas) enquanto em outros os controles se limitam aos aspectos dimensionais e qualidade dos materiais do elemento estrutural (sapata ou tubulào), sendo a qualidade do maciço apenas inferida a partir da experiência profissional do engenheiro de fundações.
Vê-se pois que o "modus operandi" da engenharia de fundações é diferente das outras modalidades presentes na construção civil, onde se projeta a priori o que se deseja, escolhe todos os materiais e insumos intervenientes e, posteriormente, procura garantir que a execução siga fielmente o projeto para que se obtenha o produto desejado, seja ele um elemento da estrutura de concreto armado, da instalação elétrica, uma porta ou um piso, por exemplo.
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