quinta-feira, 2 de maio de 2013

FUNDAÇÕES QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Introdução

As primeiras preocupações, em termos gerenciais,  com a qualidade de produtos aconteceram com o  advento da revolução industrial. Durante a Segun- da Guerra Mundial, houve uma difusão do contro- le estatístico da qualidade, principalmente nas indústrias americanas , baseado em técnicas de  amostragem e estatística desenvolvidas na década  de 30. Esse controle estatístico atestava a conformidade dos produtos a uma especificação: é o que se denomina qualidade de conformidade.

Surge, na década de 60, no Japão, o conceito de qualidade total TQC, definido como a soma da qualidade de projeto com a qualidade de conformidade com a especificação, objetivando a satisfação do usuário. O conceito evolui para uma abordagem preventiva, ou seja, a qualidade final do produto passa a ser obtida fundamentalmente através da prevenção de falhas.

O TQC. no Ocidente, foi fortemente influenciado pela Teoria de Sistemas, gerando os primeiros con-ceitos de Garantia da Qualidade e mais tarde os de Gestão da Qualidade, expressos na ISO 9000 e seguidos, na década de 80, por diversos setores, desde os nucleares, aeroespaciais e aeronáuticos, que foram os pioneiros, até o petrolífero e automobilístico.

A indústria da constniçào civil, do ponto dc vista da qualidade, é atrasada em relação a outrossetores industriais apesar da sua incontestável importância para a economia de qualquer país, qualquer que seja o parâmetro para avaliação: participação no produto interno bruto-PIB (no Brasil, cerca de 7%), na População Economicamente Aliva-PEA (absorve 6,5% no país), no capital empregado, etc.

Dentre os subsetores da construção: o de edificações (residenciais, comerciais, industriais etc.); o da construção pesada (infra-estrutura viária, urbana e industrial; obras dc arte; obras de saneamento; barragens; usinas etc. ) e o da montagem industrial (sistemas dc geração, transmissão e dis-tribuição de energia elétrica; sistemas de exploração dc recursos naturais; sistemas de telecomunicações etc.), há diferenças significativas no que se refere à qualidade.

Nos setores da construção pesada e no de montagem industrial a implantação dc sistemas de qualidade já remonta a muitos anos, antes mesmo da existência da ISO 9000, mesmo no Brasil. Vários sào os motivos para isso, destacando-se a complexidade das obras, as maiores exigências em relação
à segurança c as grandes importâncias envolvidas.

A construção civil, guardadas as devidas proporções entre seus subsetores, apresenta características próprias, que favoreceram seu atraso em relação aos outros setores industriais, e que sào apontadas por Meseguer (1991) : um caráter nômade, produtos únicos c nào seriados; uso intensivo de mão-de-obra; produto fixo e operários móveis, ao contrário da produção em cadeia, dificultando a organização c controle; indústria tradicional , com grande inércia às alterações; trabalho sujeito às intempéries; emprego de especificações complexas ; responsabilidades dispersas e pouco definidas; grande número de intervenientes e longo ciclo de aquisição e uso, minimizando o desenvolvimento de senso crítico por parte do comprador.

Picchi (1993 ) apont a aind a qu e o subseto r de edificações apresenta uma produtividade menor do que em outros países; desperdício elevado, da ordem de 30% cm custo; desenvolvimentos tecnológicos recentes sem priorizaçào da quali-dade e uma cultura de convivência com esse quadro. Esses fatores, entretanto, vêm sofrendo mudanças, indicando uma tendência clara no sentido de uma maior preocupação com a qualidade e seus métodos de gestão.

As atividades relacionadas com a gestão da qualidade em edificações iniciaram-se e mantiveram-se por várias décadas quase que exclusivamente voltadas ao controle da qualidade dc alguns ma-teriais e insumos, particularmente para instalações elétricas c para uso estrutural, tais como o aço c o concrcto.

Durante anos considerou-se absolutamente normal que, por exemplo, materiais elétricos (fios, fusíveis, interruptores ctc.) deveriam ser submetidos a um controle dc qualidade rigoro-so (devido ao risco dc incêndio), enquanto os processos dc produção dc escavações c fundações, alvenarias e revestimentos de paredes e lajes ctc. continuavam a ser executados por trabalhadores com baixo nível de treinamento, sem
nenhum envolvimento com os conceitos dc qualidade e sob precários controles dc mestres-de-obra cuja experiência está baseada cm tradições pouco científicas e com reduzido "input" tecnológico.

Alguns conceitos já consolidados, tais como: controle tecnológico de materiais, particularmente para uso estrutural; avaliação dc desempenho; estudo dc durabilidade dos materiais c componentes; estudo dc patologia das edificações; náo foram efetivamente integrados a enfoques mais amplos c sistêmicos da gestão da qualidade, utilizados nos demais setores industriais. Na área dc fundações, cm particular, nem todos esses conceitos estão plenamente desenvolvidos. O "controle tecnológico" do material "solo", por exemplo, na maioria das obras dc edificações, rcstringc-sc ain-da à execução de sondagens de simples reconhecimento.

Atualmente, nota-se um interesse crcsccntc entre as empresas no aprimoramento da qualidade gerado pela globalização da economia, pelo maior grau dc exigência dos clientes, particularmente após a criação do Código dc Defesa do Consumidor, cm 1991, e pela grande competitividade gerada por esses fatores.

Tal gestão na construção civil renderá, como já está a render cm alguns setores e cm algumas empiesas, além de produtos (obras) que satisfarão integralmente seus clientes, economias significativas pelo fato de:

• evitar desperdícios, com minimizaçâo na produção de sobras, entulhos, resíduos;
• evitar "retrabalhos" pela produção correta e adequada dc cada item na execução, dc modo a eliminar demolições parciais, desmontes, reformas ou remendos no que já foi produzido;
• obedecer prazos, concatcnando todas as etapas e tarefas, pelo correto planejamento dc todas as  atividades;
• aumentara produtividade dos trabalhadores pelo seu real engajamento no fluxo produtivo, a partir de um adequado treinamento e de uma conscientização do papel c da importância de cada indivíduo no contexto geral da obra;
• diminuir a incidência de patologias, após a obra concluída.
• diminuir os custos dc manutenção das obras civis, pela correta escolha de produtos c técnicas para uma dada condição dc serviço.

Os instrumentos para a melhoria da qualidade na constnição dc edificações baseiam-se no princípio dc Galilcu Galilei, século XVII: "É necessário medir o que c mensurável e tornar mensurável aquilo que não o é". Os métodos dc gestão da ISO 9000 fundamcntam-sc na documentação dos processos, inclusive os administrativos, para poder planejar, executar, demonstrar, testar, examinar, avaliar, decidir e agir; os processos de aprovação técnica também se baseiam cm retirara subjetividade dos julgamentos; com base cm requisitos c critérios dc desempenho mensuráveis e objetivos, conforme será relatado a seguir.

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