segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Novas Tendências de Gestão Ambiental - Influências sobre o Projeto e a Execução de Fundações

Atualmente delineia-se, em nível mundial, uma nova tendência no trato da gestão ambiental que, de certa forma, se assemelha ao enfoque dado à gestão da qualidade. Este modo de tratar as questões ambientais vem se consubstanciar no lançamento oficial das normas ISO da série 14000 no ano de 1996, após longa gestação e maturação.

Após os anos iniciais da conscientização das questões ecológicas em nível internacional, conturbadas por posições muito exacerbadas das várias correntes "pró" e "contra" a "preservação ambiental", evoluiu-se para os conceitos do "desenvolvimento ecologicamente sustentado" e agora para os "pro-dutos ecologicamente corretos".

A gestão ambiental surgiu quase que simultaneamente aos primeiros conceitos de qualificação,  cm 1971, com a criação pela ISO, de três Comitês Técnicos para tratar exclusivamente dessa ques-tão, que são o TC 146/Qualidade do ar, TC 147/ Qualidade da água c TC 190/Qualidade do solo.

A primeira vez em que a gestão ambiental passa a ser uma exigência objetiva é com o lançamento, cm 1992, da norma BS 7750, elaborada pela British Standards Institution (BSI) , com base na experiência acumulada de Sistemas de Gestão de Qualidade. Esta norma propõe um Sistema da Gestão

Ambiental, que procura nào somente ordenar e integrar os procedimentos existentes, como permitir que este seja passível dc Certificação. Esta Norma está diretamente relacionada à norma BS 5750, que trata dos Sistemas de Gestão de Qualidade, c que constitui a homônima inglesa da série ISO 9000.

Os múltiplos pontos dc abordagem da BS 7750, dos quais os rótulos ecológicos, os sistemas dc gestão ambiental e os métodos de ensaio sào apenas uma pane, e diversos aspectos da ISO 9000 evidenciam a necessidade dc se cesenvolverem temas que os subsidiem, como os novos concei tos de avaliação de performance ambiental e de análise dc ciclo de vida de produto.

No que se refere ao projeto e à execução de fundações, certamente ocorrerão algumas influências,
ao menos localizadas, sobre técnicas e processos e, possivelmente, até sobre tipos de fundação atualmente utilizadas que possam vir a sofrer restrições ao seu uso ou virem a ser eliminadas. Os comentário s qu e seguem tem certo caráte r especulativo quanto às condições futuras e não pretendem vaticinar o que irá ocorrer no campo das fundações mas tão-somente oferecer uma re-flexão aos leitores para melhor s e prepararem para sua atuação na futura conjuntura de um meio técnico inserido numa sociedade que tenha se imbuído do conhecimento e das responsabilidades de agir de forma ecologicamente correta.

Neste cenário alguns materiais terão utilização muito restrita e controlada em razão dos danos que podem provocar ao meio ambiente, o que limitará sensivelmente o uso de produtos tóxi-cos, contaminantes aéreos ou das águas, materiais que produzem resíduos nào biodegradáveis em mai-or quantidade etc. Certamente produtos como o CFC, detergentes nào-biodegradáveis, "pó da Chi-na" e outros já sobejamente condenados não só não serão utilizados como nem ao menos fabricados. Mas, e na Engenharia das Fundações, onde  praticamente não s c lida com produtos de alta perieulosidade, o que irá ocorrer? Algumas mudanças podem ser visualizadas, como segue:

• a cravação de estacas por percussão dinâmica (com uso de bate-estacas) certamente sofrerá restrições, possivelmente será excluída de regiões densament e habitadas ou limitada a certas distâncias de vários tipos de instalações urbanas como hospitais, escolas, teatros, construções de valor histórico relevante etc.
• o uso de bentonita para a execução de estacas escavadas deverá ser submetido a controles muito mais rigorosos, certamente não se permitindo em nenhuma hipótes e o lançamento de lamas bentoníticas como efluentes nos cursos d'âgua;
• o acondicionamento dos materiais pulverulentos utilizados nas obras (inclusive nas fundações), tais como cimento, cal e bentonita deverá sofrer exigências maiores quanto â garantia dc não oferecer riscos de produção de poeiras;
• as embalagens e materiais dc acondicionamento dos produtos e componentes utilizados nas obras (inclusive nas fundações) deverão s c submeter aos regulamento s mais gerai s relativos a embalagens visando â eliminação de resíduos tóxicos ou que produzam gases tóxicos quando de sua incincraçâo, a minimizaçào da produção de resíduos, entulhos e lixo que exijam disposição c nào tenham garantida a sua reciclagem ou o seu reaproveitamento;
• o trafego dc veículos pesados (carretas utilizadas para o transporte de peças pré-moldadas c de ixite-cstacas", por exemplo) poderá vir a ser mais restringido nas áreas urbanas especialmente nas depreservação ambiental ou do patrimônio histórico e cultural;
• escavações em áreas urbanas deverão sofrer controles muito mais rigorosos e a disposição de materiais escavados deverá ser vinculada ao seu uso imediato ou futuro, deixando de existir ix>ta-foras" e rareando as áreas para disposição dc entulhos e solo escavado;
• estacas dc madeira tendem a desaparecer do uso corrente, inclusive pelo fato de que muito provavelmente só madeiras provenientes de rcflorestamcntos poderão ser utilizadas nas construções c na indústria.

Assim, aos poucos, nos próximos anos será criado um novo contexto para muitas indústrias, inclusive para a indústria da construção civil, da qual a engenharia de fundações é parte integrante. Neste novo contexto alterar-sc-ào métodos, processos e, inclusive, as relações entre as partes envolvidas. O engenheiro geotécnico deverá estar consciente destas alterações, de modo a continuar a enfrentar os desafios que a profissão lhe oferece c contribuir para o desenvolvimento da sociedade na qual se insere.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Problemas Relativos à Concepção Sistema Estrutural

O colapso de uma estrutura dúctil, quando solicitada por um sismo, dá-se não pela capacidade resistente das secções aos esforços actuantes, ...

Entradas populares